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Jason Bourne

“Talvez seja pior do que o vazamento de Snowden.”

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A franquia Bourne ganha um novo fôlego nas telonas com seu quinto filme, nomeado simplesmente Jason Bourne. Ao mesmo tempo que traz de volta seu ator e personagem principal (o quarto filme foi protagonizado por Jeremy Renner com outro papel), o mais recente longa funciona como um reboot para atualizar a série clássica de thriller de ação e espionagem.

O capítulo invoca o agente criado pelo escritor Robert Ludlum, junto com seus consagrados elementos de suspense e cenas de ação impactantes, e faz um mix com questões políticas e sociais que pairam no debate contemporâneo, como uso da tecnologia para o bem ou mal.

O diretor Paul Greengrass, que já comandou outros dois capítulos da história ao lado de Matt Damon, é um cineasta que sabe enxergar o seu tempo e introduzir esse tipo de discussão em suas obras. Do mesmo modo que construiu a trama de A Supremacia Bourne e de sua sequência, O Ultimato Bourne, em cima de temáticas pontuais, seja das ameaças terroristas ou prepotência de programas de defesa militar, desta vez parte para a questão de segurança digital e poder de metadados, deixando a reflexão sobressair o contexto da aventura: nós temos direito à privacidade dentro da internet e qual o limite para os governos invadirem nossa vida virtual?

Esses são tópicos recentes dos noticiários. Nós podemos acompanhar a saga do FBI nos Estados Unidos para que a Apple libere o desbloqueio dos iphones para investigação de vários crimes. No próprio Brasil estamos passando por eventos que exemplificam esse conluio. A Polícia Federal necessita de informações presentes em conversas via o aplicativo Whatsapp para dar sequência aos seus casos. Porém, os termos e políticas de privacidade entre app e usuários impedem que esses dados sejam descriptografados, sistema que tem respaldo legal e jurídico. O resultado disso é conhecido dos brasileiros.

Um ou outro juiz na incumbência de fazer justiça determina que o aplicativo seja tirado do ar, de forma a pressionar a empresa responsável para que libere as informações. Fato que ainda hoje não gerou nenhum fruto concreto, a não ser milhões de pessoas enfurecidas sem seu aplicativo de mensagens, ou, a prisão momentânea de Diego Jorge Dzodan, vice-presidente do Facebook na América Latina – justamente pelo fato da companhia não disponibilizar as conversas de suspeitos de tráfico de droga para a polícia.

Agora pegue toda essa balbúrdia e encaixe com a história de Jason Bourne. Esse é exatamente o filme que você verá no cinema.

No longa, JB lembra praticamente de toda a sua vida. Porém, com um novo programa da CIA sendo criado, o Iron Hand, o fugitivo volta à ativa para cavar mais um pouco da seu passado e investigar os novos movimentos feitos pela agência de inteligência dos EUA.

A adição de nomes consagrados à trama são positivos. O veterano Tommy Lee Jones faz o papel do diretor da CIA; Vincent Cassel é o “contato”, responsável pelo trabalho sujo da agência; e, a bela e oscarizada Alicia Vikander assume o papel de coadjuvante como personagem que descobre os podres que estão acontecendo e jogando pelos próprios princípios.

O ator inglês com ascendência indiana, Riz Ahmed, faz o gênio bilionário Aaron Kalloor, dono da maior rede social do mundo (já sabe de quem estamos falando aqui na vida real, não é). A personagem é um ponto-chave para história, visto sua inspiração, ou mesmo atuação direta de dono de rede social. Ele é responsável pelo embate de liberação de informações sigilosas para um grande plano de segurança global. Aliado à equipe está o retorno de um ótimo Matt Damon, confortável e em forma para refazer um de seus papéis de mais destaque em sua carreira, e que dessa vez também é creditado como produtor do longa-metragem.

No conjunto da obra, Jason Bourne, o filme, consegue se reciclar. A eterna luta do espião para descobrir seu passado é mantida de maneira secundária, dando lugar a novos conflitos. A forma como o conteúdo atual é encaixado ao enredo cria, de forma dinâmica, uma nova fase e permite diversas opções a serem seguidas pela franquia.

Se estruturalmente o roteiro não apresenta tantas mudanças, e já sabemos o quanto Bourne é bom em chutar bundas e escapar de cilada atrás de cilada, é justamente o mote de segurança digital, privacidade e perguntas deixadas no ar que enriquecem esse capítulo. Então cuidado: um clique no mouse pode ser mais fatal que o disparo de uma arma. Vá ao cinema ver esse filme, e use antivírus.

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A Lenda de Tarzan

“Eles estão cantando sobre a lenda de Tarzan”

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Em 1999 foi o ano que tive a oportunidade de pisar pela primeira vez em uma sala de cinema, e o filme que inaugurou minha cinefilia nas telonas foi justamente Tarzan, o longa de animação produzido pela Disney. O desenho, como a maioria das obras feitas pela casa, é puro e emocionante, ainda mais contando com aquela tocante trilha sonora de Ed Motta cantando a versão em português de You’ll Be in My Heart, de Phil Collins no original.

Mas, não estamos aqui para falar de nenhum conto de fadas para as crianças. Assim como nós crescemos, as histórias que conhecíamos quando pequenos também envelhecem, e muitas vezes assumem caráteres tenebrosos, nebulosos e soturnos.

Esses são alguns adjetivos que definem visualmente A Lenda de Tarzan, aventura que traz de volta o clássico personagem criado pelo norte-americano Edgar Rice Burroughs no começo do séc. XX. O longa-metragem da Warner Bros. é uma releitura do pequeno garoto órfão que é criado na selva, e que mais tarde tenta se adaptar à vida entre os humanos.

A película tem a direção do prata da casa, David Yates, o qual você deve conhecer pelos últimos capítulos da saga Harry Potter, e conta com um elenco de valor. Alexander Skarsgård faz o protagonista do título, Djimon Hounsou e Christoph Waltz são vilões, e a louca, deusa e feiticeira Margot Robbie faz Jane, a parceira de Tarzan. Ah, também temos a presença coadjuvante e meio deslocada de Samuel L. Jackson (o cara está em todas).

No filme, que se passa nos anos 30, Tarzan está “aposentado”. Há muito deixou sua vida na África para assumir o papel de Lorde Greystoke, herdeiro de uma rica família inglesa. John Clayton III – seu verdadeiro nome – vive uma vida cinza e sem poucas emoções longe da floresta. Nesse contexto, a fotografia sobria e negra influência diretamente as emoções da personagem, refletindo a negação do mesmo para com sua verdadeira natureza. A forma desajeitada ou presunçosa como Tarzan toma sua xícara de chá na frente dos aristocratas expõem seu desinteresse para retornar a sua verdadeira casa, ao mesmo tempo que força uma vida que não é sua.

Porém, com simples mas objetivas reviravoltas de roteiro, Sir John Clayton III decide retornar ao Congo, com sua esposa Jane, para investigar junto com George Washington Williams (papel de Samuel L. Jackson) supostos casos de escravismos com os nativos do país.

Super-herói das selvas

O retorno para a selva é visto como uma benção. O homem branco que cresceu entre os gorilas tem uma grande reputação na África. Amado e/ou temido pelas tribos locais e respeitado pelos animais, Tarzan é uma lenda viva. Os contos sobre como o homem consegue pular árvores e se embalar em cipós como macacos estão todos presentes. Graças ao poder da tecnologia de efeitos especiais, Alexander Skarsgård se transforma em um verdadeiro super-herói das matas. É notável a intenção do filme para a criação de um futura franquia, embalada pelo sucesso atual dos longas do gênero heróico.

Várias menções ao clássico personagem estão presentes, como o famoso grito de Tarzan, que ecoa a virilidade e poder, e até mesmo sua relação com as feras locais. Toda essa construção é muito bem regida, mas de forma indireta. Os feitos do herói nunca são totalmente mostrados, a não ser por flashbacks pontuais que guiam a trama atual. Nesse âmbito, o filme ganha com objetividade e segue um bom ritmo.

Chega de donzelas em perigo e chega de vilões ruins

Um ponto do qual podemos nos distanciar das antigas obras de Tarzan é a presença de uma Jane Porter mais forte, que procura quebrar os estigmas de donzela em perigo. Margot Robbie contrasta lado a lado com seu parceiro, mostrando um lado mais equilibrado entre os dois protagonistas. Em determinado momento, o vilão personificado (de novo) por Christoph Waltz fala: “Grite, chame o seu marido!” e Jane retribui: “Se você acha que vou gritar como uma donzela, está enganado”, e termina a passagem com um belo cuspe na cara do antagonista.

Além de completar a película com sua formidável beleza (sério, essa mulher é bonita demais), Margot soma a nova versão trazendo uma Jane mais independente e que participa de desisões importante na trama. Essa é uma linha na qual várias obras da atualidade vem seguindo, o que muito se deve muito à luta feminista e discurso de igualdade de gêneros. O próprio reboot de Caça-Fantasmas faz isso, e foca no potêncial das moças para o recomeço da franquia (confira a crítica sobre As Caça-Fantasmas aqui).

Ponto negativo porém para Christoph Waltz, que novamente faz o papel de vilão caricato que já chegou ao seu máximo. O excesso de vilaneza do ator, que se consagrou justamente pelo antagonista de Bastardos Inglórios, chega ao seu limite roteirístico e visual, entregando um inimigo genérico e pouco marcante. Assim como a recente crescente das películas super-heróicas, é fato a falta de vilões mais simbólicos para o gênero em si.

A lenda vive

Se você espera de A Lenda de Tarzan um grande sururu na selva, com produção de ponta e ótimos efeitos especiais, é justamente isso que irá encontrar. O roteiro simples foca no visual e deixa de lado o potencial e química entre os atores de grande porte. Até agora estou refletindo sobre a necessidade de Samuel L. Jackson na história, se não um modo de colocar o posicionamento norte-americano contra a escravatura e governos imperialistas na África. Tsc.

O que marca é a bela fotografia africana e a construção da lenda do protagonista. Na conjuntura, cenas que servem de apoio ou os próprios flashbacks são bem mais certeiros. Quando a tribo começa a cantar sobre a lenda de Tarzan em sua língua local, você consegue entender a importância daquele momento e a relevância da volta do herói para os cinemas. Quando a música acaba e o filme segue seu fluxo, a lenda vai dando lugar a uma correira desenfreada pelas árvores e termina com um terceiro ato desimportante em relação ao produto no total. Afinal, quem conta um conto, aumenta um ponto.

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As Caça-Fantasmas

Who you gonna call?

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O ano de 1984 nos presenteou com um dos maiores filmes estilo sessão da tarde, e, por que não, de todo o cinema: Os Caça-Fantasma, ou Ghostbuster no original, apresentava falidos cientistas em busca da provação da existência de seres ectoplasmáticos, e como ganhar umas verdinhas capturando fantasmas aterrorizantes. A hilária equipe composta por grandes nomes da comédia norte-americana caiu nas graças da audiência e os dois longas produzidos na década de oitenta se tornaram clássicos pipocão da cultura pop.

Anos e anos se passaram e, apesar dos muitos boatos sobre um terceiro capítulo, nenhuma continuação foi produzida. O quarteto de atores do original, Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson, nunca chegaram ao consenso para o roteiro ideal. O descaso de Murray para blockbusters, a aposentadoria do pequeno-grande Rick Moranis em Hollywood, e o triste falecimento recente de Harold Ramis também foram fatores determinantes para que Caça-Fantasma 3 não viesse à tona.

Eis que a Sony Pictures, detentora dos direitos da história, decide apostar todas as fichas em um recomeço. Em 2014 o estúdio anuncia um reboot completo para a obra, com novos protagonistas. Digo, novas protagonistas.

Os fãs vieram à loucura sabendo que o novo Caça-Fantasma teria personagens femininas no comando, deslegitimando toda a produção. O primeiro trailer lançado, no começo desse ano, também não ajudou muito. Foi o vídeo mais rejeitado de todos os tempos do Youtube, recebendo mais de 500 mil joinhas ao contrário nas primeiras horas de exibição. Porém, posso afirmar logo de cara uma coisa para vocês: os fãs estavam enganados.

Deixa as minas trabalharem

Se tem algo que se sobressai em As Caça-Fantasmas são suas atrizes no leading role. O novo quarteto é formado por [olha só essas feras]: Melissa McCarthy, um dos maiores nomes da comédia atualmente nos cinemas; Kristen Wiig, aquela coadjuvante que você conhece de rosto e que nunca tinha ganhado a oportunidade de protagonizar um longa-metragem; Kate McKinnon, novata nas telonas mas grande conhecida do elenco de Saturday Night Live; e Leslie Jones, também do humorístico de TV estadunidense.

Saturday Night Live, diga-se de passagem, o maior formador de humoristas cinematográficos de Hollywood, já havia contribuídos nos filmes originais com a equipe masculina, e agora mais uma vez fornece as caras para um novo time cômico, com uma química cheia de gags e entrosamento natural que funciona muito bem em cena.

Os papéis das comediantes rementem diretamente aos da primeira versão dos Ghostbusters. Melissa McCarthy faz Abby Yates, a cientista fascinada pelo sobrenatural e que fará tudo para provar a existência de fantasmas (Dr. Ray Stantz/Dan Aykroyd); Kristen Wiig faz a Dra. Erin Gilber, receosa em criar as Caça-Fantasmas, 99% cientista, mas com aquele 1% garanhona (Dr. Peter Venkman/Bill Murray); Kate McKinnon faz a linda e maluca Jillian Holtzmann, engenheira que cria as bugigangas tecnológicas para capturas os seres do outro mundo e roubar meu coração (Dr. Egon Spengler/Harold Ramis); e Leslie Jones, no papel da motorista oficial da turma e que conhece como ninguém a cidade de Nova Iorque (Winston Zeddemore/Ernie Hudson).

As quatro comediantes dão substancia para o roteiro cheio de massa etérea. Mesmo emulando as características dos personagens antigos, elas trazem personalidade e atualidade para os seus papéis designados.

“Mazá, Caça-Fantasmas sem os homi não tem nada a ver, filme lixo”. Sem essa de machismo barato, amigo. As moças botam pra quebrar dentro da tela, e, mais do que salvar o dia, elas interpretam cenas engraçadas e sequências que divertem, o que realmente importa aqui. Nesse sentido, também mostram uma importância maior em sua participação, trabalhando com representatividade de gênero e cor em duas horas de duração de filme, debate de máxima importância em nossa época.

Roteiro com pouca ousadia, mas sincero

O Ghostbuster de 2016 é um reboot completo, o qual segue muito a receita e estrutura de roteiro do original de 84, e não traz muitas inovações ou ousadia para a história. Mas o importante é que o próprio filme não nega isso, e essa sinceridade só contribui.

Toda a essência dos longas clássicos está presente, seja pela narrativa em si ou pelas participações especiais e easter eggs. Os principais atores e atrizes dos originais fazem pequenas aparições que são bem mais do que puro fan service, sendo papéis insignificantemente engraçados.

Um deles até (quem diria) é de destaque, e se encaixa naturalmente à trama. No conjunto da obra, o filme também acaba sendo uma grande homenagem aos seus predecessores.

A novidade fica por conta dos efeitos especiais: fantasmas, aparições e fenômenos ganham mais dinâmica e cor com o CGI atual, aquele famoso show de luzes, contribuindo com a proposta maluca e escrachada do novo capítulo. Quem também se destaca é Chris Hemsworth no papel do secretário das caça-fantasma Kevin Beckman. Famoso por interpretar o papel do poderoso Thor nos filmes da Marvel, aqui o grandalhão também mostra que tem aptidão para as comédias.

Por fim, As Caça-Fantasmas é um reboot que funciona, e que provavelmente terá mais sequências, tudo só depende da aceitação do público. Ele se encaixa muito bem como comédia para ver com a família, trazendo de volta todas as coisas boas dos filmes antigos, com mais estilo e mais gosma. Pode ir assistir, comprar seu balde de pipoca, sentar na cadeira, relaxar e curtir.

P.S.: Tem cena pós-crédito, mas só os fãs das antigas vão entender =p

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Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos

Lok’tar ogar, camarada*

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Em órquico, Lok’tar ogar significa Vitória ou Morte. Essa é apenas uma das milhares de expressões que os mais de 12 milhões de players que jogam ou já passaram pelo mundo de Warcraft estão acostumados. Pensa só numa responsa para fazer um filme que faça jus ao nome do game para toda essa turma aí!

E não é só isso. Podemos dizer que Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos veio como um recomeço para adaptações de todos os jogos para o cinema. É só pegar o histórico dos que já tentaram se aventurar para a outra mídia e ver do que eu estou falando. Diferente dos outros casos, a criadora Blizzard Enterteniment ficou responsável pela supervisão de todo o projeto, desde roteiro, elenco, produção e até a direção, escolhendo um verdadeiro fã da franquia e jogador nato, Duncan Jones, para comandar as câmeras.

A história busca adaptar o primeiro jogo da série, lá de 1994, intitulado Warcraft: Orcs & Humans, muito antes de ele se tornar o famoso mmorpg World of Warcraft. O esquema é esse aqui: os Orcs, que fazem parte da facção chamada Horda, moram no planeta Draenor. Esse planeta tá caindo aos pedaços, então eles têm a ideia de ir para outro mundo, chamado Azeroth, por meio de um portal mágico.

Só que, para abrir esse portal é necessário sacrificar milhares de vidas, por meio de magia negra. Logo, os primeiros Orcs que chegaram em Azeroth precisam capturar humanos para fazer o negócio funcionar. Mas nem todos os Orcs concordam com isso, e assim, os bonzinhos acabam se juntando com os Humanos, os quais fazem parte da facção chamada Aliança, para deter o mal no novo mundo. Legal, não é?

Ou seja, todo um incrível universo fantástico, com seguidores em todos os cantos do planeta e com um dos games mais jogados nesta Terra, nada poderia dar errado, certo? Pois é. O filme de Warcraft não é de todo bem, mas também não é de todo mal. Abaixo eu explico direito o que deu e o que não deu certo. Cola comigo!

Um velho novo mundo-fantasia

Antes de tudo, é necessário dizer que, mesmo tendo uma legião de fãs, é no cinema que Warcraft vai encontrar a sua “expansão” máxima. Falo isso no sentido de abrir a obra para públicos que não consomem os jogos eletrônicos. É um novo mundo a ser explorado nas telonas, porém um velho conhecido dos adoradores de histórias épicas, fantásticas, medieval e da Terra-Média.

Não, Warcraft não é um Senhor dos Anéis, mas bebe muito (e se bebe) na fonte de sir J. R. R. Tolkien, tanto no livro em si, quanto na obra cinematográfica. Ali você vai encontrar Orcs, Anões, Elfos, Magos, Feiticeiros, Calabouços e Dragões. É importante dizer, porém, que esse filme não tem a pretensão de pegar o lugar da obra-mor de Tolkien ou da película de Peter Jackson; é justamente ao contrário. Warcraft funciona porque busca a sua própria identidade, mesmo com inspirações alheias. Ele vai te apresentar cidades, raças, línguas, feitiços e animais que partem diretamente do seu jogo, tornando a experiência para que tem ou já teve contato com a franquia muito prazerosa.

Diversos mecanismos utilizados nessa adaptação comprovam as diferenças. Vale o destaque para a fotografia e opção de uma palheta de cores mais colorida, em comparação direta com O Senhor dos Anéis. Os bosques, florestas, cidades, e personagens exploram bem a diversidade de tons e coloração dos games, além de aspectos mais concretos, como armaduras e armas. A grandiloquência de design porém é diminuída proporcionamente para que faça sentido fora do mundo virtual.

As duas raças principais apresentadas, Orcs e Humanos, também tem uma um relacionamento e química interessantes. Para o telespectador os dois lados falam uma mesma língua (inglês no caso, se você assistir legendado). Mas, quando se encontram e conversam em cena, há um recurso audiovisual que mostra que cada um possui língua própria, fato que enriquece o embate entre as duas facções.

Falando em Orcs, outro grande ponto positivo é o uso de um incrível CGI. Cerca de 90% do filme foi produzido digitalmente, inclusive todos os personagens Orcs, por captura de movimento. O chefe do clã dos Lobos de Gelo e protagonista do lado da Horda, Durotan, exibe toda a qualidade e perfeição logo na introdução. Expressões faciais, músculos, movimentos e fala beiram o realismo, ostentando com justiça o mesmo selo de qualidade digital que a produtora Blizzard utiliza em seus jogos.

A pressa é inimiga da perfeição

Se nos aspectos técnicos, Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos tira de letra, é nos atores, direção e corte que ele falha. Algo que realmente me irritou nesse longa foi a velocidade do roteiro e edição apressada. Cenas importantes que duram menos de um minuto, ou até mesmo passagens desnecessárias que não somam nada ao produto final. Mesmo que eu veja que isso não afeta diretamente a qualidade do roteiro, torna a experiência desagradável. O que parece é que o filme se torna um grande trailer cinematográfico do jogo – qualidade impecável, mas sem um aprofundamento emocional.

Emoção também é algo que falta para os atores, no sentido de “falar” com o público. Em nenhum momento você se sente conectado emocionalmente com as personagens, fato que diminui o impacto dramático da história. Existem protagonistas que morrem e que você não sente nenhum tipo de sentimento, seja tristeza ou raiva por matarem o miserávi. Falta carisma também nas atuações dos atores Travis Fimmel, como o cavaleiro da Aliança Lothar, Ben Foster como o mago Medivh e até em Dominic Cooper, que apesar de ser bom ator, não convence como rei dos humanos.

Engraçado que quem se sobressai na atuação é justamente o núcleo da captura de movimento, os Orcs feitos por Toby Kebbell (Durotan) e Rob Kazinsky (Orgrim), junto com a atriz Paula Patton, que faz a assassina meio-Orc, meio-Humana, Garona.

Protagonismo é um ponto a se levantar também. Mesmo tendo uma história bem balanceada – digamos que o filme é 55% horda, 45% aliança – ou que é bem interessante, é notável a falta de um herói de presença, uma imagem que realmente assuma a ponta na grande guerra.

Parte 1 de…?

Mesmo entre acertos e erros, o primeiro filme de Warcraft se configura como um grande prelúdio, o qual termina cheio de pontas solta para dar continuação da sua guerra em filmes da sequência.

Não se pode dizer, porém, que ele é um filme feito apenas para fãs. É natural que os jogadores dos games ou os que tiveram contado com a franquia por meio de livros, gibis ou outras mídias, tenham uma maior afinidade e curtam mais a película. Ela está lá por causa deles. Há alguns fan services sim, mas nada que distancie o longa do público de fora.

Quem nunca jogou ou não conheço o universo de Warcraft, não terá problemas em entender o que se passa. Mesmo não explicando a vida de cada um ou por que aquele personagem está fazendo ali, naquele momento, o filme dá uma diretriz básica e explicativa para quem está chegando no bonde agora. Isso também faz parte da mística estabelecida, e aquele gostinho de quero mais.

Convenhamos, dificilmente há alguém aqui nunca tenha visto um Orc, Elfo, Mago, ou um… guerreiro montado num hipogrifo alado?! Meu ponto é: ninguém conhecia Darth Vader quando ele entrou na nave da Aliança Rebelde nas primeiras cenas de Star Wars. Só descobrimos a verdade sobre ele lá no segundo capítulo.

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos é uma história rica em demasia, a qual, mesmo não sendo um grande sucesso comercial de crítica ou bilheteria, tem todos os méritos para ter várias continuações. E que venham logo elas!

*Este crítico joga Warcraft desde 2007, e joga pela Horda! 😉

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Capitão América: Guerra Civil

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Em minha crítica de Capitão América: Soldado Invernal eu afirmei logo na introdução que este era, junto com Os Vingadores, o melhor filme do Marvel Studios até então. Isso lá em meados de 2014. Agora a briga fica maior, porque a sua continuação direta, Capitão América: Guerra Civil, é uma obra tão boa quanto, e que, concomitante, traz as decorrências de seu antecessor e as de Vingadores A Era de Ultron, para mais um filme episódico, sendo a porta de entrada para a fase três do grande universo cinematográfico criado pela produtora.

Se no segundo capítulo solo do Capitão América tivemos uma das maiores reviravoltas já apresentadas no cenário compartilhado – a queda da SHIELD mexeu com a trajetória dos diversos filmes, inclusive influenciando as séries de tv – a parte três vem para resolver justamente as consequências. O Cap. Steve Rogers e seu parceiro Falcão, ambos integrados aos novos Vingadores, seguem a busca pelo Soldado Invernal Bucky Barnes, amigo do Capitão, ao mesmo tempo que precisam lidar com problemas e destruições causados pelo time em escala global.

O Acordo de Sokovia rege a trama: um documento produzido pelos países das Nações Unidas para que os Vingadores, uma organização privada financiada pelas Indústrias Stark, se torne pública e atue sob comando da ONU.

Dois lados de uma mesma moeda

O conflito é criado quando os integrantes se dividem entre os que aceitam a proposta e os que preferem seguir independentes. Deste modo temos a cisão criada e as duas equipes montadas, uma contra e outra a favor, com Steve Rogers e Tony Stark no comando de cada uma, respectivamente.

A relação dos dois nunca foram das melhores. Mesmo sendo amigos, seus ideais e ações batendo de frente são mostrados desde o primeiro Vingadores; dualidade que atinge o ápice nesta história. A relação Homem de Ferro e Capitão América, criada há alguns filmes atrás, é muito bem acertada. Cada um tem seu lado muito bem construído, e lidam com os resultados de formas distintas, mesmo que isso implique no confronto direto.

Novamente os irmãos Anthony Russo e Joe Russo, diretores responsáveis pelo segundo e terceiro filme do Capitão, acertam em cheio nas relações dos personagens e, principalmente, nas cenas de ação. O método de filmagem, com as câmeras bem próximas aos atores mostram o cuidado e ensaio que os produtores possuem na hora de criar as peleias. Outro ponto de destaque é como eles sabem aproveitar a personalidade e poder de todos os 12 heróis presentes em cena, e a forma de como cada um combina seus golpes e métodos de batalha com seus parceiros.

Por exemplo, na passagem inicial de ação feita na África, os Vingadores já mostram sintonia e treino com um auxiliando o outro, seja na parte de espionagem quanto nas lutas. A Feiticeira Escarlate joga os capangas para o Falcão bater, ao mesmo tempo que impulsiona o Capitão para entrar num prédio. A batalha do aeroporto (falarei melhor mais a frente), mostra um ensaio impecável e estrutural com todos os heróis, e o Capitão América, no embate com Homem de Ferro, uma sincronia incrível com o Soldado Invernal, num jogo de socos e escudo que empolgam.

A aquisição da assistência Chad Stahelski e David Leitch, os diretores do filme John Wick, dão um grande auxílio aos irmãos Russo, dando suporte às coreografias das cenas de ação.

Sobre a sequência do aeroporto, um show de criação e coordenação, uma passagem marcante que ficará na história dos filmes do gênero de super-herói. Não apenas por ser algo nunca visto nas telonas, colocar 12 personagens para lutar entre si, mas do modo que foi executada, e, principalmente guardada.

Mesmo aparecendo pedaços nos trailers, a direção editou a cena para preservar alguns personagens inéditos, como Homem-formiga e Homem-aranha, um dos maiores responsáveis pelo sucesso da batalha de Guerra Civil. Ela também é um dos maiores fan service já visto. Ver o Gavião Arqueiro atirando, fazendo um combo com o Homem-formiga na ponta de sua flecha, é de fazer ozóio de qualquer nerd se encher de água.

A família cresce mais um pouco

O maior apelo de Capitão América 3 também fica por conta da apresentação dos novos e esperados heróis do Marvel Cinematic Universe (MCU). São eles: Pantera Negra e Homem-aranha (sim, o amigão da vizinhança está de volta!). Ambos são introduzidos de forma natural, tendo importância na trama, e não sendo apenas um a mais na multidão.

Pantera Negra, interpretado pelo ótimo Chadwick Boseman, é a identidade “nada secreta” de T’Challa, herdeiro do trono do reino fictício de Wakanda – aquele mesmo que é citado n’Os Vingadores 2, país fonte do metal vibranium. O herói tem presença imponente, somando tanto à história quanto ao panteão de heróis da Marvel Studios, te deixando com muita vontade de ver seu vindouro filme solo.

Outro que te deixa na vontade é o teioso, que também terá um longa solo já para o próximo ano. O Homem-aranha é adicionado finalmente ao MCU, graças ao “acordo de cavalheiros” feitos pela Disney, dona da Marvel, e a Sony, que tem os direitos cinematográficos do Spider. Peter Parker volta à sua casa original, já precisando lutar com os demais heróis – uma ação totalmente de quadrinhos. Sua introdução é “espetacular”, e Tom Holland, novo ator que interpreta o herói, é um acerto em cheio. Sua atuação como aranha é uma comédia garantida, e todas as vezes que aparece em tela, não tem como segurar o riso.

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A participação de Paul Rudd como Homem-formiga, apesar de ser pequenininha (tu dum tss), é um dos grandes plots de Guerra Civil. Se você curtiu seu filme solo, vai adorar sua contribuição na cena do aeroporto.

Calma lá, tem coisa ruim também

Nessa hora temos que tirar nossas lentes de fã e analisar o que tem de errado com Capitão América – Guerra Civil. Há alguns elementos que não funcionam tão bem, outros que deixam a desejar. Na parte técnica, alguns efeitos especiais ou até mesmo o excesso de CGI criam uma certa artificialidade ao longa. Cenas do aranha e pantera em ação não passam despercebidas a olhos mais atentos, porém nada que diminua a experiência, ao contrário das resoluções de enredo ou até mesmo a falta de um final mais épico.

Barão Zemo, o vilão que estava sendo mantido em segredo no material de divulgação, foge daquilo que todos esperavam, e vai frustrar os fãs mais hardcore. Há também, ao fim, uma certa sensação de falta de coragem para concluir alguns arcos, ou as consequências diretas de uma guerra, deixando toda a história criada a mercê do produto em si e seu valor comercial. Falta um toque a lá George R. R. Martin (entendedores entenderão).

Outro fator que não passa despercebido são as semelhanças com o concorrente da temporada: Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Além de várias situações que aproximam as duas produções, a data de lançamento de um mês de diferença entre os filmes contribui para uma comparação direta.

Mesmo tendo uma preferência pela editora Marvel, não nego minha apreciação pela DC. Sem entrar na questão “um filme é melhor que o outro”, posso afirmar com tranquilidade que Guerra Civil é uma obra com bem menos erros e que me empolgou bem mais que BvS, sendo óbvio todo o contexto e os outros 12 filmes da Marvel Studios que o antecedem. Então, fanatismos de lado, torço pelo dois, porque quanto mais herói brigando nas telonas, melhor. Leia a crítica do BvS aqui.

O começo da fase 3

Capitão América – Guerra Civil consegue, ao mesmo, fechar com maestria o arco solo do Sentinela da Liberdade iniciado em Capitão América – O Primeiro Vingador, e ser mais um episódio importante no MCU, dando o ponta pé inicial na fase 3, na qual teremos novos super-heróis e a tão esperada batalha galática suprema das Guerras Infinitas contra o vilão Thanos, e que também será dirigida pelos irmãos Russo.

Os diretores já falaram que irão trabalhar com cerca de 3x mais heróis em Vingadores 3 (que será dividido em duas partes, uma em 2018 e outra em 2019). Ou seja, teremos no mínimo 36 fantasiados tretando! Vem Hulk, vem Thor, vem Guardiões da Galáxia, vem todo mundo!

Todas as amarras soltas e cenas pós-créditos de Cap 3 animam e deixam o telespectador querendo mais. É engraçado notar que, mesmo sendo o filme mais sombrio da franquia feito até agora, visto todo a trama de terrorismo global e conflitos entre amigos, esse também foi o que mais dei risada até o momento.

Não só os personagens-comédia como Homem-aranha e Formiga, mas também os pequenos diálogos de Robert Dowey Jr os relacionamentos fraturados trazem um ótimo equilíbrio, e necessário, para o longa. É a formula Marvel Studios no seu melhor, dando mais uma uma grande cartada da produtora e da própria Disney, que emplaca mais blockbuster de 1 bilhão de dólares em bilheteria mundial.

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